Prémio Fernando Távora 4ª edição
A arquitecta Cristina Salvador foi a Vencedora da 4ª edição do Prémio Fernando Távora, com a proposta “Diário do Deserto - Namibe 2009”.
Júri: A artista plástica Helena Almeida, os arquitectos João Luís Carrilho da Graça e Sérgio Fernandez, o Professor Doutor Arnaldo Saraiva e a arquitecta Ana Maio (em representação da OASRN).
Organização: Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitectos – Ana Maio; Maria Manuel Oliveira; Luís Tavares Pereira (vogais do pelouro da Cultura), Adriana Castro (assessoria), Margarida Vagos Gomes; Teresa Cálix (vogais do pelouro da Encomenda), Rita Vitorino (assessoria); Sara Azevedo (assessoria).
Design gráfico: R2
Patrocínio: AXA Portugal
Regulamento da 4ª edição
Proposta “Diário do Deserto - Namibe 2009”
“O espaço do Deserto do Namibe, as fronteiras entre o deserto e os assentamentos, entre o deserto e o mar, a travessia, o encontro e as trocas entre comerciantes e pastores e, por outro lado, o encontro e a troca de pesquisas antropológicas, económicas e espaciais, possíveis através do CE.DO, levam-me a fazer a mala e a meter-me ao caminho.
Na preparação da viagem, pensei em Nietzsche e na forma como remete o tema do deserto para o vazio, para o desconhecido, para esse vazio de que temos uma poderosa necessidade de ‘encher’ com a nossa própria presença, de o dominar. Pensei também no simbolismo do deserto e nos mitos a ele associados, tais como o Burro (ou o Camelo) – animais do deserto (também eles niilistas?). Carregam, carregam fardos até ao fim do deserto.”
Excertos da proposta de viagem
O Júri congratulou-se com a qualidade da maioria das propostas concorrentes e reconheceu que o trabalho premiado se distingue por corresponder da melhor forma aos objetivos do Prémio e à própria ideia de viagem defendida por Fernando Távora, especialmente no que respeita à “extraordinária capacidade de investigar sobre o sentido das coisas, as suas raízes, a grande curiosidade pelo outro, ancorada numa forte ligação ao seu contexto de origem, na defesa da dignidade do homem, e respeitador das suas diferenças”; pela qualidade da sua escrita, marcada pela clareza, pela síntese e pela originalidade da proposta – “analisar a forma como os pequenos comerciantes, atravessando regularmente o deserto com os seus burros e carregamentos em busca de pastores, são os primeiros organizadores do território e saber quais são as questões que essa organização levanta”; “aí onde a intervenção do homem são indícios, marcas, traços e encontros sazonais, tendo por base o que aparentemente parece ser uma atividade económica reduzida mas regular e reguladora, mais do que em cidades e periferias, onde, na maior parte dos casos, o essencial está fragmentado, disperso ou fortemente condicionado”.
Quer pela qualidade, quer pelos objetivos, a proposta de Maria Cristina Pinto da França Salvador honra a obra de Fernando Távora.
Biografia da vencedora
Maria Cristina Pinto da França Salvador (Peniche, 1947 – Lisboa, 2011) foi uma arquiteta portuguesa com forte ligação ao espaço lusófono, particularmente a Angola. Formou-se em 1971 na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e iniciou a sua carreira colaborando com Manuel Tainha, José Rafael Botelho e Vasco Vieira da Costa, em Angola. Em 1976 fundou o Atelier do Chiado, em parceria com Fernando Bagulho, a partir do qual desenvolveu projetos de arquitetura e urbanismo em Portugal, Angola e Congo-Brazzaville, assim como missões técnicas na Guiné-Bissau. A sua obra destacou-se pela investigação sobre contextos africanos, pela aproximação entre arquitetos portugueses e angolanos e pela exploração de dimensões antropológicas, sociais e espaciais da arquitetura. Entre 1998 e 2000 trabalhou em Luanda e Maputo como bolseira do programa Praxis 21 e foi uma das fundadoras do CE.DO – Centro de Estudos do Deserto. Em 2009 recebeu o Prémio Fernando Távora com a proposta de viagem “Diário do Deserto – Namibe 2009”, distinguida pela originalidade do olhar sobre a relação entre comerciantes, pastores e território. Entre 2005 e 2007 integrou o Conselho Diretivo Nacional da Ordem dos Arquitetos, responsável pelo estudo “Profissão Arquitetos”, e em 2011 foi distinguida como Membro Honorário da mesma instituição. Autora de obras como Viagem no Deserto: Namibe, Angola (2010) e Diário do Deserto: Namibe (2015), deixou um legado marcado pela investigação, pela prática profissional e pela valorização das relações humanas e culturais na arquitetura.
Composição de Júri
Helena Almeida, nasce em Lisboa em 1934, cidade onde vive e trabalha. Licenciou-se em Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Expõe regularmente desde finais da década de 60. Nos finais da década de 70, surge o início da sua internacionalização com exposições individuais em Berna, Basel, Paris, Bruxelas. Em 1998 apresenta a exposição Entrada Azul na Casa América, em Madrid, por ocasião da feira de Arte Arco dedicada nesse ano à arte portuguesa, que permita ao público espanhol, e não só, um contacto directo com a sua obra, uma revelação para muitos críticos e curadores internacionais. Na sequência dessa exposição, Helena Almeida estará presente em sucessivas exposições internacionais, e é organizada a retrospectiva no Centro Galego de Arte Contemporânea (Santiago de Compostela, 2000). O período entre 2004-2005 é marcante no reconhecimento da sua obra, tendo realizado uma mostra de trabalhos no Drawing Center de Nova York, na Bienal de Sidney e a importante exposição retrospectiva apresentada no Centro Cultural de Belém. Depois de em 1982 ter sido a representante portuguesa na 40ª Bienal de Veneza, volta a participar na edição de 2005 onde apresentou a exposição Intus.
João Luís Carrilho da Graça, 1952, licenciado pela esbal em 1977, foi assistente na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa entre 1977 e 1992. Desde 2001, é professor convidado no Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa e na Universidade de Évora a partir de 2005. Actualmente dirige o Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa e da Universidade de Évora. Recebeu o Prémio da Associação Internacional dos Críticos de Arte em 1992 pelo conjunto da sua obra e pela execução da Escola Superior de Comunicação Social; Prémio Relação com o Sítio, Menção Honrosa (Associação dos Arquitectos Portugueses), Piscina de Campo Maior, 1993; Prémio Secil 1994, Escola de Comunicação Social, Lisboa; Prémio Valmor 1998 e Grande Prémio do Júri Fad 1999 Pavilhão do Conhecimento dos Mares, Expo 98; Prémio Luzboa 2004 da 1ª Bienal Internacional de Arte em Lisboa; Nomeado para o Prémio Mies Van Der Rohe, Prémio Europeu de Arquitectura e recentemente candidato proposto pela Ordem dos Arquitectos Portuguesa para o Prémio Auguste Perret, Prémios Uia 2005. Publicado extensamente em inúmeros livros e revistas da especialidade. Distinguido com a Ordem de Mérito da República Portuguesa em 1999.
Sergio Fernandez, nasce, no Porto, em 1937. Curso de Arquitectura, na Escola Superior de Belas Artes do Porto. Professor Associado da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Integra os Conselhos Directivos e Pedagógicos do Curso de Arquitectura da Escola Superior de Belas Artes de 1976 a 1983. Vice-Presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, de 1988 a 1994. Membro do Conselho Científico da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, desde 1987. Director do Centro de Estudos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, de 1990 a 1997. Orienta Seminários integrados nos International Course on Housing Planning and Building do Bowcentrum, Rotterdam, de 1977 a 1983. Lecciona, de 1997 a 2005 na Universidade do Minho, Curso de Arquitectura, onde rege a cadeira de Projecto I. Preside ao Júri do Prémio secil de Arquitectura, 2005/2006. Orienta vários trabalhos de Doutoramento, no âmbito da faup e da Escola Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona. Jubilado da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto em Novembro de 2006 Exerce regularmente a profissão liberal, em co-autoria com Pedro Ramalho, Alves Costa e José L. Gomes (Atelier15, Arquitectura Lda.), ou isoladamente. É coautor de vasta obra de arquitectura.
Arnaldo Saraiva, é professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde ensinou Literatura Portuguesa e Literatura Francesa e onde rege as cadeiras de Literatura Brasileira e de Literaturas Orais e Marginais. É também professor da Universidade Católica Portuguesa (Porto). Licenciado em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa, fez estudos de pós-graduação no Rio de Janeiro, em Paris e em Urbino. Foi leitor da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, e professor convidado da Universidade Paris iii (Sorbonne Nouvelle). Tem organizado vários colóquios e feito cursos e conferências em países da Europa, África, América e Ásia. Foi dirigente da Cooperativa Árvore e do Boavista Futebol Clube. É presidente da Fundação Eugénio de Andrade. Fundou o Centro de Estudos Pessoanos e a revista Persona (em colaboração). Organizou várias antologias, prefaciou mais de duas dezenas de obras de diversos autores, publicou ensaios em numerosas obras colectivas e colaborou ou colabora em várias publicações portuguesas, brasileiras e internacionais, entre as quais as revistas francesa Esprit, belga Sources, espanhola Anthropos, argentina Inter Litteras, e norte-americana Indiana Journal of Hispanic Literatures. Foi cronista regular dos diários Jornal de Notícias, Público e Diário de Notícias e do semanário Jornal do Fundão. Está representado em antologias de poesia e de crónica.
Ana Maio Pinheiro Machado, nasceu em 1976, Porto. Vogal do Conselho Directivo da Ordem dos Arquitectos Secção Regional Norte oasrn e co-responsável pelo Pelouro da Cultura. Frequenta Programa de Doutoramento-Projectos Arquitectónicos na etsab, Universidade Politécnica da Catalunha, com Tese de Doutoramento sobre o tema: João Andresen Una Encuesta a La Tradicion. Em 1999 Licenciou-se em Arquitectura pela faulf. Em 2001, foi Bolseira do programa Leonardo da Vinci. Em 2003, participou no Seminário Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina 1950-1965, no Institut Català de Cooperació Iberoamericana. Entre 2005 e 2007 participou na organização de diversas actividades de âmbito cultural, entre as quais: em 2005 , como responsável pela coordenação/produção do Simpósio Internacional Museus de Arte, na Fundação de Serralves; em 2006/2007 foi assessora do Pelouro da Cultura da oasrn, coordenando o ciclo Em Trânsito, o ciclo de exposições Reunião de Obra, o ciclo de conferências Road to wonderland e as Comemorações do Dia Mundial da Arquitectura I Love Távora. Em 2005 iniciou actividade como profissional liberal, após 5 anos de colaborações em diferentes gabinetes do Porto e de Barcelona (03 / 05 Albert Pineda, arquitectos; 01 / 03 Roldán Berengué Arquitectos; 00 / 01 Willy Muller, arquitectos).